falsa entrevista #05 – Fernando Catatau

16 Out

"As outras bandas de axé você pode até confundir, mas Chiclete tem uma pegada deles."

Pergunto-te caro leitor viciado numa polêmica: “Chorou sangue de saudade do @paginascoladas?”. Estamos de volta. Nós éramos uno dos los 13 e finalmente abandonamos aquele fétido e repugnante underground . Cá estamos com o ZZZappa disfarçado de Roberto Carlos, Fernando Catatau. “E aí, macho?”, fala Catatau com aquele sotaque jóia. “Tava demorando né?”. Ele está em seu lar aqui em Sampa, sentado numa espécie de sofá-cama, sem camisa, calça hippie, meia só no pé direito e dedilhando com muita rapidez, habilidade, ginga e malícia as cordas de um baixo. O cabelo  rola uma instiga mullet grisalho e a barba tava daquele mermo jeito tufo de ser. Enfim, troncho. Na TV tá rolando a bosta Faroeste Cabloco sendo tocada no Acústico MTV. “Essa VHS foi um cara de Sergipe que me deu”, fala Catatau orgulhoso com a relíquia. “Maneiro”, respondeu Rafinha procurando uma coisa na bolsa. Pois é caro leitor, finalmente a falsa entrevista #05 do @paginascoladas está noir. [ <<—- brega isso! ass: Rafinha]

Renato russo mano? [perguntei meio reprovante]

É cara, ao invés de escutar Restart a gente escuta Legião. [fala Catatau meio todo errado]

Sacanagem po, a gente saca que tu curte. Mas nunca achou que ia entrar na tua casa e tu ia tá vendo essa parada.

To num vício da porra ultimamente. Deixo essa parada rolando sem parar aqui em casa. Alto. Acho que os vizinhos tão achando que eu to na deprê de novo. Minhas deprês são brabas, macho. Até os vizinhos choram véi. Tenho certeza. Mas agora é só doideira da cabeça mermo. Tem época que paro numa banda e fico sugando todo dia, viajando no que aquilo quer dizer, na época, tentando entender o lado do compositor, as frustrações, sabe?

Ah eu sou meio shuffle! [com voz de miguxa, interrompendo Catatau]

Continua. [Catatau sorri, olha pra baixo e encosta o baixo na parede]

Mês passado eu voltei a escutar Márcio Greyck. Saca Márcio Greyck? “Eu já não consigo mais viver dentro de mim e viver assim é quase morreeer”. [canta Catatau enquanto dá pause em Faroeste Cabloco que ainda não tinha acabado]. É muito linda essa música. Escuta esse cara, velho. Você não vai se arrepender.

Meu irmão, tu deve curtir um Biafra.

Pra caralho. Eu gosto de música bonita. De música romântica bem feita.

.”]Quem tem feito música assim hoje no Brasil. Aliás, primeiro em Recife [estávamos na cidade e escutamos muita coisa mais ou menos], depois no Brasil.

 

Macho, acho que em Recife a turma tem dificuldade de fazer música assim. Eu gosto muito de Risoflora de Chico, mas ainda não é. Acho Recifense muito pilantra pra fazer música de amor. [risos] Na moral, estou sendo injusto com o Rei Reginaldo Rossi, perdoe-me recifenses.

Mas mesmo assim é difícil encontrar?

É cara, a música de Recife desde o frevo que é outra parada.

Uma parada que raramente bomba nacionalmente né? Seja lá o ritmo que for.

Não bomba, mas é uma parada que sempre é respeitada, seja lá o ritmo que for. Aquele cara do morro mesmo [Acho que se referindo a João do Morro]. Não vai bombar não, mas já rola um respeito. Com Recife é sempre assim. Só basta vir de lá. Bronca é sair de Forrótaleza, macho! É durezaacende[pausa de 8 segundos]…mas então…voltando da viagem estelar.

E nacionalmente, quem tem feito?

Ah muitos…tem uns axé que tem se garantido.

Cara tu perdeu a chance de rasgar seda pra um bocado de patrão teu. [risos]

Na verdade to fazendo mídia pra outros mercados. [riso cínico]

Ih axéé é? Mai bichinho, tem vergonha não é? [interrompe Rafinha já meio legal forçando um sotaque de novela.]

[gargalhada geral]

Mas de boa. É verdade. [retorna Catatau com semblante sério]

"Cabelo raspadinho, estilo Ronaldinho"

Chiclete já se garantiu em várias.

O Asa [de Águia] no quesito música de amor me parece melhor. Mas Chiclete tem uma musicalidade muito mais foda. Tem uma parada na banda, ali naquele meio que só eles fazem. Que você escuta e sabe que é Chiclete. As outras bandas de axé você pode até confundir, mas Chiclete tem uma pegada deles. Aquela [canta mais uma vez] “Se me chamar eu vooou” [e continua falando] “ao som do furta-cor que furta coração, me leva a emoção” tem uma guitarra muito safada. É uma das bonitas do Chiclete. Tenho um VHS aí de Timbalada no programa de Wandi Doratiotto. Puta merda, macho, passei minha adolescência sacando esse show. A fita deve tá fudida, senão colocava pra rolar.

Por que a turma mete tanto pau no Axé?

Aí é pra estudioso, mago. Essa galera que gosta de se aprofundar em coisa que sei nem praonde vai. Eu sei que eu gosto. Não me importo nem fico chateado que tem zezinho que não gosta. Até pq esses caras tão tudo rico, vou brigar pra que? [risos] Se pelo menos os caras fossem liso. Eu brigaria por alguma causa. [risos] Alguém lembra do início daquela “Menina me dá seu amor”? Alguém que critica já prestou atenção com carinho naquilo? Eu duvido. Só repetem, escuta o pai dizendo que é ruim, aí repete.

Eu aposto que a maioria dos nossos leitores não tem ideia do que tu tas falando.

Tem sim, essa galera escutou, macho! Parou de escutar por não sei o motivo. De repente até nem parou. De qualquer forma eles lembram sim. O axé tem um impacto muito grande na vida de qualquer brasileiro. Tem gente que diz que lembra de Gretchen mostrando a bunda nos Trapalhões e diz que não lembra de uma música de Chiclete só pq “pega mal”.

Didi nas horas vagas.

Catatau tu é um gênio mermo! [fala Rafinha empolgada dando um murrinho no braço esquerdo do nosso falso entrevistado]

E tu é uma axezeira. [responde Catatu sorrindacende]

[gargalhadas de Rafinha em seu estágio mais legal da tarde]

Amigos do Páginas Coladas, corram para o youtube e coloquem lá: chiclete com banana. É de chorar! Quando escuto, os meus vizinhos ao invés de chorar, pulam. [risos] Alto astral.

Ta vendo? Você Recifense, inspire-se no alto astral da Bahia. Sorriam de si mesmos! E dancem, dancem! Urrul!

Urrul!

Massa Rara!!! [Lembra Rafinha]

Aquilo é um axé!

Totalmente.

Inclusive, a piada de uns recifenses aqui em Sampa é que tua voz é igual a de Durval Lellis.

[risos] Chegou em mim essa piada! Mas essa galera que inventou isso faz poprock manjado. [risos] Mas olha aí que eu não tava de caô caô quando falei da cultura do axé na vida dagente. Esse cara que falou isso escutou axé adoidado. [risos]

[risos]

Essa parte da falsa entrevista tu corta.

Corto porra nenhuma, tás feito cineasta querendo cortar tudo é?

[Rafinha cospe cerveja na parede e gargalha] Boa!!!

Qué isso cara, demite essa menina. [se levantando acho que pra pegar algo como pano de chão]

Foi mal Catatau, é pq Henrique é foda. [Rafinha limpando a boca babada]

Traz esse pano de chão e aproveita e traz também a VHS da Timbalada que tu falou. [gritei pra Catatau que estava na cozinha]

Não mermão, vou te levar uma parada. Daminhão Experiença, já escutasse?

É isso galera, a falsa entrevista acabou. Desliga tudo que agora a internet vai ficar morgada.

OFF: Porra minha irmã…

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falsa cobertura – No Ar Coquetel Molotov/2010 – dia 01

24 Set


Teatro da UFPE, local onde será realizado o ex indie festival (essa definição é de Rafinha) No Ar Coquetel Molotov 2010.“Cadê vocês no Central ontem minha gente? Josias também tava lá””, fala Ana Garcia ao nos encontrar no hall da amostração. “Nada, a gente ficou jogando sinuca no Hotel mesmo”, respondi. “Ai que tudo!”, responde Aninha maravilhada com algo que não captamos. “Vem aqui vem aqui”, puxa Rafinha pela mão e nos levando para um grupinho de pessoas que estavam em uma rodinha enfumaçada de nicotina e muito allstar sujo. “São eles!!”, aponta pra nós Aninha superempolgada. Todos risonhos acenaram. Em Recife a recepção ao Páginas Coladas tem sido bem calorosa. Aninha depois nos falou que um dos caras era do Scream&Yell que era fãzão nosso. Sorrimos.

@SalaCine.17H24, o astral das pessoas na sala ainda é muito “acabei de chegar, vou pagar de cool”. Encontramos o brother Hominis Canidaee catequizando um grupo de teenager com no máximo 17 anos que pareciam não se interessar muito com o papo. “Eles que fizeram Toxic de Britney po! sério! Não acredito que vocês nunca escutaram!!”, falou Hominis em voz alta. As garotas olhavam cada uma pra um lado. Mais tarde percebemos que as mesmas garotas passaram toda a noite vendo e sendo vistas no hall da amostração. Uma delas inclusive voltou no carro de um jornalista  famoso que não era o Xico Sá.

Banda Vouyer no palco. “Na moral, CSS em 2010 rola não, porra!”, falou a sábia Rafinha. A vocalista Ju Orange é a chamada brasileira que não desiste nunca. Nas inúmeras tentativas já tentou copiar Bárbara antes de virarFormiga, e arriscou até banda de reggae eletrônico. A tentativa agora é o moderno Eletro-Rock. Show pra esquecer. “Ahhh mas essa é legalzinha”, ironiza Rafinha dancando a la Lovefoxxx referindo-se a música Little Mamma. O Ministério do Páginas Coladas adverte: Goste do show da Vouyer e vire nosso inimigo mortal. Se quiser conhecer o som da banda: clique neste link.

Marietta Vital antes de subir no palco nos fala sorrindo, “Tô nervosa!” e solta beijinho pra Rafinha. “Conheço ela faz tempo”, fala Rafinha. “Vai agradar, apesar de ser reaggae!”. E realmente é bom, nada mal pra digerir o show da Vouyer. Marietta Vital tem presenca de palco, voz boa e ainda tem potencial pra musa. “Gostosa!!!”, escutamos um marmanjo gritando no intervalo de uma música pra outra. Era o guitar hero Ênio da banda Mellotrons e sua eterna chinfrosidade roquenroll. Ao lado dele Zeca Viana, companheiro do milenar Clube dos Chinfrosos de Recife. Massarock foi uma decisão acertada do festival. Caiu muito bem no espaço da Sala Cine. Aprovado.

Sabe na época que bastava banda pernambucana usar uma alfaia que já conseguia uma turnezinha na França? Acontece a mesma coisa com bandas suecas nesse festival. Até parece que basta vir de Estocolmo e ter menininha weird cantando que o Coquetel Molotov vai querer enfiar guela adentro qualquer merda. Aninha, o @paginascoladas tá de olho em você e aproveita a oportunidade pra lançar a campanha  Expulsão Sueca 2011!! Invasão Americana Já!! ”. Bem, é um show morgado, com cançõezinhas que não colam, mas enganam o indie mais iludido.Sim estamos nos referindo ao Taxi Taxi! É Farsa, caiam nessa não!! Expulsão Sueca 2011!!

O baiano Bemba Trio passou sem chamar tanta atenção. Um esquema ragga fuleiragem com pegada de ritmo nordestino. Tem até coisa legal, dançante em alguns momentos, mas chegou uma hora que cansou a plateia por conta dos beats já manjadões. “Fecha o olho! vê se não parece com Skank essa porra!”, falou @acurumim pra uma amiga com cara de chapada que não sabemos o arroba dela. “Defintivamente é uma proposta que não cai bem na nova proposta eu era indie do festival”, criticou Rafinha. O dancehall do Bemba Trio nos fez lembrar do hall da amostração. Partimos pra lá pra arregar o uísque dos brothers do @ex_exus.


“Estamos aqui com o OK Go de Recife, a banda que só é boa em videoclipe!”, fala Rafinha fingindo um talk show com dois integrantes da banda @ex_exus. Gargalhada geral que chama atenção de todo o hall da amostração. “Te fode!”, falou brincando Cacá, o vocalista mascarado que acabara de ser desmascarado em praça pública. “Mas o show deles ano passado aqui foi massa”, falou um mamão – que você sabe quem é – que sempre tá junto dos caras.

@TeatrodaUfpe “Zé Cafofinho no Coquetel, eu não entendo mais nada”, falou um careca estranho parecido com o ex-baixista do QOTSA que estava ao nosso lado. Ninguém entende nada do que Zé Cafofinho canta. Algo como “suco de mangaba”, segundo Rafinha. O Teatro da UFPE ficou grande pra banda, talvez funcionaria na Sala Cine. Nós – na verdade – não conhecíamos o som do cara, mas não agradou não. Nos fez lembrar que Siba sim cairia bem no Teatro. Regional honesto e sem pagação de moderninho. Sugestão para 2011.


Soko é a pagação de pau alternatchiva da noite. Todos falavam dela no hall da amostração logo cedo. Rafinha diz que curte o som da garota, mas desconfio que ela só conheç a um hit. Esse show vimos dos bastidores, bebemos muita cerveja e trocamos uma ideia com Tathiana (a Robin de Ana Garcia). Escutamos muita covbersa em off “sem querer” (várias pautas futuras, HEIN!). Encontramos com Catatau. “Cadê a falsa entrevista galéga?”. Nesse momento “o cineasta”  com uma câmera na mão começa a nos filmar. Rafinha respira fundo. Ele sorri pra nós, pega três cervejas e sai. Aninha pergunta: – “Quantas cervejas ele pegou ?” – “Umas sete”, responde Rafinha com o cinismo habitué. Gênia! Voltamos ao show, plateia cheia cantando I`ll kill her. O show funcionou.

O melhor show da noite foi o Miike Snow é bom e fez um show muito bom. Depois de escutarmos no carro vindo pra cá o disco todo, esperávamos bem mais do show é verdade, mas devido a um dia fraco de festival, ele acabou se destacando. Os produtores do hit Toxic de Britney Spears (Fonte: Hominis Canidaee) pareceu ter um público cativo aqui em Recife e o show renbeu muitos comentários positivos no fim do dia. Assistimos até a metade do show, pois fomos avisados pelos os jovens voluntários do @noarcm que a equipe da MTV queria fazer uma entrevista conosco. Fomos em direção ao hall da amostração e – no caminho – esbarramos com a prima de Rafinha e um tal de Bruno Negaum. “Vocês já escutaram Milla Bigio?”, falou a garota. “Voces deviam entrevistar ela! Aiiiin”. Ficamos desconversando por muito tempo no hall, até que na quarta cerveja Rafinha pergunta: “A gente tava indo praonde mesmo?”.

A Incrível História do Retorno Trinfual do Ogro Pegador de Atriz Global? O Gregos Samsa da música brasileira lançou um disco que agradou todo mundo, menos à redação do Páginas Coladas. A real é que o disco novo não é tão bom como um pessoal tem tando falado por aí. No frigir dos ovos nem vai chegar aos pés da projeção que teve com o Condom Black. Ou seja, essa “redenção artística” é um pouco forçada. Mas enfim, o show. Garotas em pé no gargarejo do palco gritam o nome do cantor e coisas como “Wohoo!” e “Fodaaa” o tempo inteiro. A banda – como todos já sabem – dispensa apresentações. Otto fala com a plateia, conta histórias, parece bêbado como sempre, mas nem tão doidão como antigamente. “Essa música é foda, porra!”, grita uma garota ao escutar os primeiros acordes da música “6 minutos”. Otto é carismático e agradece o tempo todo o Festival, fala de amor, poesia, da namorada nova, de Chico Science e – como sempre – de macumba. “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos” é um disco que funciona muito melhor ao vivo. Mas pra falar a verdade, depois desse show quem torcia o nariz pra Otto vai continuar torcendo e quem curte vai continuar curtindo. Nada vai mudar.

Após o show de Otto, Henrique e eu pintamos lá na festa Sem Loção. Ele não gostou muito, ficou 10 minutos, disse que era festa GLS e foi beber não sei onde com os pirralhos do Joseph Tourton. Eu gostei muito, foi jogação. Mas o melhor da noite foi a produtora Allana Marques alok pedindo pra ser entrevistada pelo Páginas Coladas. Ai ai, que sucesso!

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falsa entrevista #04 – Marcelo Camelo

12 Ago

"Sinto que idiotizei uma gurizada." | Foto: Vitor Moraes

“Teatro quê? Não, não.”, responde com sorriso amarelo o músico Marcelo Camelo à pergunta de uma fã em encontro promovido pela Jovem Pan no estúdio da rádio em São Paulo. Outra garota com um nariz de palhaço no meio da testa dispara: “Nossa, você precisa conhecer, é igualzinho ao Los Hermanos!”. Camelo – com as pernas balançando – desvia o olhar para um relógio de parede, estava contando os segundos para voltar pra casa. Será lá nossa falsa entrevista com o músico. Com o argumento de que não cairíamos em clichês jornalísticos – e muito menos – em perguntas de fãs equivocadas, o músico resolveu nos receber. Exigimos também uma conversa aberta, característica fundamental do Páginas Coladas. Ele topou.

Na verdade eu sou lacônico quando a conversa não me interessa. [fala Camelo passando a chave e abrindo a porta do ap]

Mas isso não é só você.

Você viu o que o apresentador falou naquela parte de [faz o sinal de aspas] “tempo do underground”? Ali foi o atestado de que o cara nunca leu nada sobre mim. O pessoal fala que sou muito chato, mas peraí, dizer aquilo do Los Hermanos, dizer aquilo daquele momento. Quase que ligo para o Rodrigo na hora. [nessa hora muda a voz e encena uma situação: – Peraí, para a entrevista por favor que preciso ir lá fora dar uma gargalhada] Não dá cara.

Apesar de você ter esse pé atrás com jornalistas, deve ter tido algum que lhe surpreendeu de maneira positiva em alguma entrevista.

Ah sim lógico. Mas não é difícil surpreender gente. É só o cara sentar a bunda na cadeira e ler, apurar, pesquisar. É muito simples. O cara pode até ligar o somzinho enquanto pequisa. Bota o disco da banda pra escutar, escuta ele todo pra não sair falando merda. [Camelo nessa hora levanta-se da poltrona e acende um incenso com um cheiro irreconhecível, mas muito bom. Presente da sogrinha trazido diretamente da Índia].

Eu gostei muito da entrevista da Revista Trip com você. A conversa deles com Rodrigo Amarante ficou muito boa também.

E vocês dão mídia pra concorrentes é? [risos]

[risos] E desde quando o Páginas Coladas tem concorrente? Tem não, po! Nunca na história da imprensa desse país alguém fez isso que hoje em dia fazemos. Nem parecido.

Eu gosto de quem leva fé no próprio taco. Se você não confiar em você mesmo ninguém te compra. No máximo te troca por um produto manufaturado Made in China.

Rola também de você fingir que confia no próprio taco. [risos]

[risos] O cinismo em alguns momentos é muito importante. Mas então, o pessoal da Trip é muito bom. Ali o esquema é profissa, e se preocupam muito com a qualificação da informação. Mas isso não deveria ser uma coisa ducaralho, isso deveria ser o estado normal. Como não é o caso aqui no Brasil, a Revista Trip se destaca fácil. Tanto é que foi lançada na Alemanha agora, com conteúdo do país, produzido pelo o pessoal de lá. E o investimento foi alto, o gringo lá disse que ficou apaixonado pela revista.

Na verdade ele se apaixonou por uma daquelas estagiárias que faz ensaio sensual.

Po [risos] nem fale nem fale.

Quer dizer que Amarante tá pobre? Você não acha que aquela declaração foi excesso de empáfia? Muito músico anônimo deve ter perdido o sono depois de ler aquela entrevista.

[risos] A turma acha que a gente nada em dinheiro. Não é assim, não. Recebemos, pagamos nossas contas, vivemos bem, é verdade. Mas rico? Acho que só quem conseguiu engatar várias turnês no exterior e tá ganhando em Euro que fica milionário. Tá mais fácil o terceiro reserva de Rogério Ceni ser rico do que nós músicos.

"Nós não somos os meninos da vila"

Jogador de futebol que vive em mar de dinheiro. Nós não somos os meninos da vila [risos]. Você pode ver, Seu Jorge está em turnê atualmente pelos Estados Unidos & Canadá de busão, horas e horas de estrada. Você acha que se eles tivessem nadando em grana não rolava um aviãozinho fretado não? Isso é coisa de Roberto Carlos pra lá. Imagino como deve ser a galera de cinema, vai ver é por isso que eles são tão  estressados e vaidosos. É defesa. [risos]

Eu lembro o dia que disse a um amigo que tava trocando umas ideias com aquele vocalista do Gram e ele me disse que tava sem grana pra passagem de ônibus. O meu amigo não acreditou em mim, só porque o clipe do gatinho tava bombando na MTV.

Pra você ver. Antes do cara inventar de virar músico, ele deveria fazer um curso de estudos budistas pra aprender abdicar dos apegos materiais. Ou senão ler algo de Fritjof Capra. [risos]

Já li entrevista sua dizendo que não usa drogas. Então suponho que você abre exceção em backstages pré e pós show.

[risos] Puta falta de sacanagem, mêu! [risos] Po cara, eu parei mesmo, tava me batendo umas noias. Eu já sou noiado por natureza, aí se entra num barato desse a coisa aprofunda aí tem que pagar terapeuta e tal. E músico é liso [risos]. Nunca precisei mesmo pra ajudar na minha arte, então tá tranquilo.

Deixa de besteira, você e o Amarante na época do Los Hermanos eram Cheech & Chong de barba. E ainda abusava dos whiskys em camarim.

Quem?

Po Camelo, não se faça de desconectado mais do que você realmente é.

[Nesse momento Camelo ajeita o óculos de aro redondo e gigante e dá um sorriso com os olhos]. Po cara, sabe uma das coisas mais chatas dessa minha vida já que você tocou assunto de backstage. É aguentar o tal do camarim de programa de televisão. Puta merda, só merda. Só merda, cara! Você só escuta conversa idiota, de gente idiota que se acha a porra toda menos o que realmente é. Dá vontade de sair de mim e pular da janela. Deixar lá só as roupas, a barba e o óculos, já que é só isso que importam pra eles.

"Os fãs deveriam olhar pra fora da caixa, do baú"

Por falar em idiota, o que você acha de um perfil de twitter chamadO @HermanosFrases? Em que a cada minuto do dia o pessoal distribui via RT quots famosas do Los Hermanos. Por ex: “Quem é mais sentimental que eu” ou “Adeus você, não venha mais me negacear”?  Isso o dia todo.

Primeiramente vejo isso como uma bonita homenagem, certo? Mas acredito que esses fãs deveriam olhar pra fora da janela, da caixa, do baú não sei. Eu me incomodo com os órfãos do Los Hermanos, me incomodo como eles aparentam não conseguir superar a pausa da banda, não conseguem curtir coisas legais na música, ler outro tipo de literatura, sabe? Sinto que idiotizei uma gurizada. Muitos devem pensar que eu deveria me orgulhar, mas não me orgulho. Como homenagem acho ok. Mas daí a viver isso intensamente como se fosse a coisa mais fundamental do mundo é que não concordo. Até porque não é né velho? Aí quando eu sei que esse mesmo público anda escutando certas bandas e nos comparando a elas, aí que fode. É como se eles não tivessem entendido 10% do que quisemos transmitir.

Talvez só 10% dos seus fãs tenham entendido.

Já fico feliz.

É verdade que você não conhece Teatro Mágico e Móveis Coloniais de Acajú?

Lógico que conheço né cara, mas não quis dar essa sopa lá na Jovem Pan senão eu seria alvo de uma saraivada de perguntas sem nenhum sentido. Quando leio dizendo que essas bandas substituiram a gente no coração dos fãs eu fico triste. Nunca questionei a nossa qualidade por causa disso, mas o cara fica meio ressabiado com o nível crítico das pessoas com a sua arte.

"Eles mal sabem o valor daquela mulher"

Teatro Mágico e Móveis Coloniais de Acajú pra mim são bandas fracas e descartáveis, não valem uma nota de rodapé no livro da história da música brasileira. Na literatura ele não chegariam nem ao valor artístico de um Paulo Coelho. Pra mim elas e Jorge Vercilo são as mesmas bostas. E jornalistazinho vem tirar sarro porque participei de DVD com Ivete Sangalo e fica escutando essas bandas palha achando que é in pois entra no rótulo indie rock. Mal eles sabem do valor daquela mulher.

Então é Ivete Sangalo que você tem escutado ultimamente?

Tá de frescura comigo é porra? [risos] Escuto muito MPB antiga, tenho uma conexão muito forte com a música tradicional brasileira feita nos morros, nas ruas. De coraçào aberto, sem muita lapidação, porém com uma imensa qualidade e poesia. Aquilo que foi produzido do Bloco do Eu Sozinho pra cá foi buscando essa essência, é um exercício diário. Depois que escutei certos artistas e conheci certas pessoas, percebi que o puro sai mais saboroso, mais autêntico,mais sincero, até mais ingênuo.  É nesse ponto onde as pessoas se esbarram em você e pensam: Esse cara falou o que eu tinha vontade de dizer. Por que as pessoas não dizem o que pensam, elas simplesmente repetem ou moldam seus pensamentos ao externá-los.

Os grandes artistas na verdade escutaram a voz que vem lá de dentro. Picasso mesmo só virou Picasso quando abdicou de toda aquela imensa técnica que possuia – mas que o fazia igual a tantos outros – para trabalhar a ess6encia de seu sentimento sem nenhuma interrupção, sem nenhum medo de errar.

Eu já li declaração sua em que você citava sua namorada Mallu Magalhães como uma artista que tem esse tipo de característica. Permita-me fazer uma provocação: Você não acha que Mallu Magalhães ainda é uma artista em construção e é um pouco precipitado da sua parte considerá-la tão original assim? Pois pra mim, Mallu ainda tá na fase de repetir em sua música as referências que escuta, mas ainda de uma forma muito copiadinha, sem autenticidade.

De jeito nenhum, a Mallu tem uma originalidade do modo de ver o mundo que vi em poucas pessoas. E sua relação com a  arte é de uma pureza indescritível, como se nenhuma opinião alheia moldasse suas percepções, e somente ela e sua própria consciência tem espaço para sentir o que sente. E acho que essa particularidade é só dela e isso reflete seu modo de compor e fazer sua arte. Mas não discordo que ela é uma artista em construção, até porque todos somos.

"A brutalidade com que ele confronta o mundo é instigante"

Em entrevista sobre o livro Genesis, Robert Crumb falou que aprendeu muita coisa na produçào do livro. Ou seja, o cara é velho e ta aí pra provar que nunca é tarde pra aprender algo novo. O outro artista que citei nessa entrevista que você leu foi o  Nilson Primitivo. O cara é realmente foda!

Esse o Páginas Coladas assina embaixo.

Você conhece? Nossa, a brutalidade com que ele confronta o mundo é instigante. Quando to meio cabisbaixo e pouco produtivo eu sempre ligo pra ele. Desligo o telefone depois com sangue nos olhos de tanto tesão pra trabalhar. Ele é muito amigo meu e de todos do Los Hermanos, filmou nosso últimos dias junto.

[Essa hora o telefone do músico toca a música Homem da Gravata Florida de Jorge Ben] Fala garanhão! Olha, fui lá na rádio….hahahaha….aquela coisa meu irmão, aquela coisa. Foi aquele cara que já trampou no Invite`s porra! Ainda tá nessa..exatamente..caô caô. Olha to com o pessoal do Páginas aqui. É…o blog. Falamos de tu. Falei mal de tu. [risos] Jóia garanhão, passa aí.

Velho vamos ter que encerrar, Rodrigo vai passar aqui junto com o Alex  pragente acertar umas coisas dos shows que vão rolar. Tá sabendo?

Tem show lá pelo Nordeste né?

São três shows. Sabe que as vezes dá vontade de ligar pros caras e propor um retorno real mesmo. Mas a verdade é que ninguém ta bem seguro se a gente vai funcionar junto outra vez algum dia. Rodrigo e eu estamos em caminhos completamente diferentes, sabe? Mas o bom é que estamos felizes com isso. Daí juntar de novo seria trabalhoso, aí dá uma preguiça. [risos] Mas vai rolar um dia sim. [vai na geladeira e pega uma garrafa de coca-cola ]

Então esses shows são para… [fiz o famoso sinal com o dedo indicador esfregando no dedão]

…relembrar os bons tempos. [Camelo desvia o olhar para um relógio de parede amarelo com o rosto de Bob De Niro que tem colado na cozinha da sua casa].

[Ao me direcionar para a porta do apartamento já em clima de despedida, Camelo dá tapinha nas minhas costas] Po cara, gostei da falsa entrevista, era bom que rolasse uma volume02 né? Que tal?

Só se for junto com a patroa.

[risos] Pode ser junto com garanhão não? [Camelo se refere ao músico Rodrigo Amarante]

Assim os jornalistas vão ficar com inveja.

Oba, então tá fechado. [risadas]

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falsa entrevista #03 – Pupillo feat. Céu

28 Jul

"Temos que correr atrás do prejuízo do Fome de Tudo." foto - Caroline Bittencourt

“ Fala, monstrengo!”, levanta a voz Pupillo ao telefone. Estamos em seu HomeStudio, o baterista não para de falar ao celular. Ao nosso lado a cantora Céu. Acaba de gravar voz em uma faixa. Neste momento ela chega da cozinha com uma lata de leite condensado e uma mini colher, sorri para nossa ilustre e já famosa estagiária Rafinha e oferece um pouco. Rafinha – como sempre tímida – nega. Céu fala pra ela fingindo uma voz masculina: “Eu sei o que você fez no verão passado!”. Todos riem.  Pois bem fãs de toda hora, quem vos escreve é Henrique de Assis e é nesse clima amistoso que a falsa entrevista #03 do Páginas Coladas já está no ar. Dessa vez, com a presença do baterista da Nação Zumbi Pupillo.

O Polvo que me escolheu, po! [fala empolgado Pupillo para a cantora Céu que apenas sorri com o canto da boca.]

Muita gente reprovou a escolha do polvo hein? A turma queria mesmo Lúcio Maia. Isso vai prejudicar nossa audiência.

[risadas] É porque a turma gosta é das polêêêmica! [com voz de maloqueiro.]

Não nos responsabilizamos mais por isso.

Ah bote fé, aquele baixo astral que rolou lá né? Tava mostrando a Céu agora a tarde o blog de vocês. Ela disse que vocês são uns pregos que não tem nada o que fazer. [risos]

[É caô desse baiano fdp – brinca Céu desmentindo o parceiro e jogando uma espécie de dinossauro de pelúcia na cabeça do músico.]

Topa ser entrevistada um dia?

[Neste momento escuta-se um som parecido com Fela Kuti. É o toque do celular da Céu. Ela levanta, se dirige até a porta e sai com o celular em punho.]

Sim Pupillo, e essa gravação aí com Céu.

Tá ficando foda, monstro. Essa mulher é classe média alta, de cair a chapa. A música foi Rica [Amabis] que fez e eu to produzindo.

Qual o trampo? 3 Na Massa?

Nada cara, é pra uma coletânea que vai ser lançada em Senegal. Uma produtora fez o contato comigo, tinha escutado já umas coisas da Nação e sabia que eu tava no trampo de produção de disco. Pediu alguma coisa e eu mandei 3 faixas que produzi dos meninos da Mombojó e mais duas do Almaz pra vender a linha “sou brasileiro” também né? [risos]. Ela curtiu pra caralho e encomendou a parada. Ela é um pintinho [gíria olindense para mulher bonita], diga-se de passagem.

A turma por aí diz que tu é pegador. Solteiro convicto e se cochilar o cachimbo cai.

[gargalhada] Que nada monstro! Deixa de onda. Sou um rapaz sério e trabalhador. [risos]

Mas já pegasse quantas “Divas”?

[gargalha e balança a cabeça negativamente] Deixa disso, com esse papo nêgo censura a falsa entrevista e vocês ficam chorando por aí pagando de incompreendidos. [risos]

Ok ok, mas de boa, qual tua opinião sobre essa safra de cantoras da “Nova MPB”?

Peraê minha criança, saca esse último take. [Pupillo pede opinião sobre um trecho da música que acabara de gravar com Céu.]

Tá muito melhor o segundo.

Isso mesmo. Também achei. Mas então monstro, tem muita cantora boa por aí. Eu até curto algumas, mas muitas se repetem né? A real é que às vezes o cara não sabe nem quem tá cantando. Mas isso é lógica de mercado, rola em todos os gêneros.

O baterista cita Fiuk ao criticar o mercado fonográfico.

Ou você sabe me dizer a diferença entre Restart e a banda do filho daquele Jorge Tadeu? É só a fórmula dar certo que a concorrência copia, monstro. Pode ver Ivete Sangalo. Agora quando a parada é difícil de ser copiada, é uma bronca. Pitty mesmo nenhuma gravadora concorrente conseguiu achar o que seria a Cláudia Leitte dela. [risos] Acho até que tentaram emplacar alguma, mas não tiveram sorte.

Qual é a de Pitty, na real?

Mago, ela entende pra caralho das coisas! É do rock. E também tem a manha do pop, por isso que deu certo, saca? Pitty é uma menina que tem muitas boas referências, tem história no underground e caiu nas graças do mercado. Não é aquele lance montado e nojento que a gente vê por aí.

Mas ela atinge o mesmo público guri que curte essas merdas. E pelo que percebo e das poucas vezes que conversei com ela, Pitty não viaja muito no público dela não.

Pois é cara, mas público a gente não escolhe. Se fosse por mim, Erykah Badu sacaria todos os shows da Nação saca? [risos]

Ia ser show.

Ah monstro, uma coisa que acho baixo astral e esqueci de falar é a afetação das divas, musas, o caralho. Cansa ver promessa feminina da MPB maquiando o rosto e pagando de sensual em videoclipe. Se tu não teve a sorte de nascer uma Beyoncé ou Céu, melhor dirigir a carreira pra outro lado, saca? Forçar uma imagem pra ver se cola só funciona quando é bem feito. E mesmo assim se perde com o tempo.

Para o baterista, Céu é a musa da geração. foto - Caroline Bittencourt

Então Céu tá liberada pra pagar de musa?

Céu é musa sem esforço cara. Ela dorme bonita e acorda bonita. É uma maravilha viajar em turnê com ela. Ela tem presença de palco, talento, a porra toda junta. Aí o cara liga a TV e vê no Multishow promessas de musas pagando de sexy. Enquanto isso Céu tá em turnê na Europa, tirando um som docaralho. E ta nem aí pra esse esquemão todo.

[Céu neste momento volta pro estúdio] Vocês ainda tão falando de mim? [pergunta sem se importar com a resposta]

Outra merda é o puxa-saquismo com a MTV. Tem muita banda pernambucana que cai nessa. Só se fode, termina ninguém botando fé nos caras. Pra quê correr atrás de MTV doidão? Não entendo quem põe isso como o objetivo da carreira, saca monstro? Então quer virar produtinho descartável de televisão e comer VJ, né? Ok.

Mas se a parada for vendável é sucesso garantido.

Porra nenhuma man. Vai cair naquele problema de público gurizada que segue modinha. Quer encher o c** de grana por dois anos e depois aposentar a banda e seguir projeto solo fracassado. Deve ser isso.

Por falar em projeto, tás com quantos hoje?

Sei lá, uma porrada. Hoje em dia tudo tá mais fácil. E quando você cria uma rede de relacionamento legal de trampo, as coisas saem naturalmente. 3 Na Massa mesmo é um exemplo disso. Não vou ser hipócrita em dizer que era despretensioso, mas causa uma certa surpresa quando a parada dá certo como deu. O Almaz é um projeto antigo que tinha que rolar.

É com esse que tu vai ficar rico.

[gargalhada] É aquele tipo de projeto pra fazer muito show mesmo. Grandes hits bem tocados e tal, com arranjo legal. Gringo gosta disso, por isso que estamos lançando lá primeiro.

Céu? Já vai nessa? [grita Pupillo ao escutar um barulho na porta]
Apareço aqui mais tarde, to indo na casa de Ju pegar uma parada pragente gravar de noite. [fala Céu antes de bater a porta]

Em uma entrevista no site Pop up Lúcio Maia falou que o Maquinado existe de acordo com as brechas dadas pela agenda da Nação Zumbi. E no seu caso?

Ah cara, tenho tudo armado em volta da Nação Zumbi também. Pode parecer diferente para muita gente, principalmente quem não acompanha a Nação de perto, mas o nível de prioridade dos outros projetos – por enquanto – estão abaixo da Nação com certeza.

Fome de tudo é um bom disco?
Tem coisas boas, mas não são das melhores, lógico. O disco foi lançado muito nas pressas, não tivemos tempo de lapidá-lo. E mesmo assim as composições deixaram muito a desejar. Posso dizer que foi um erro. Teve uma época que não aguentava nem ensaiar as músicas do disco, muito menos tocar em show. Mas por outro lado foi um disco que fez a gente alcançar um outro tipo de público.  Hoje em dia to mega relax quanto à existência do Fome de Tudo. [risos]

Mas tá relax porque teus projetos paralelos tão vingando.

[Pupillo neste momento sorri concordando.]

Pra falar a verdade, quando eu escutei o Fome de Tudo, me convenci de que era o último disco de estúdio da Nação Zumbi. É praticamente o Kavookavala [disco horrível do Raimundos] de vocês. Vi ali uma banda cansada e tentando reinventar uma fórmula que sempre se caracterizou pela inovação. Aí depois veio aquela gravação de DVD no Marco Zero que só me fez  acreditar no que eu estava prevendo. Eu estava lá.

Qué isso minha criança? Isso é uma pergunta, um desabafo ou uma provocação? [risos]

Nem pergunta, nem desabafo, nem provocação. É uma verdade. [risos]
E tu vem com a maior cara lavada me dizer isso? [risos] Nada monstro, A Nação perdeu o fôlego nestes anos mesmo. Temos conversado muito à respeito. Posso até dizer em primeira mão aqui no Páginas Coladas, creio eu que pode rolar um período sabático .

O leitor @arnaudsa enviou via twitter uma pergunta para você. Ele quer saber se depois de tanto tempo, ainda é difícil aguentar as piadas de Lúcio.

[gargalhada] A turma não perdoa. Cara, então, vamos falar do período sabático. [risos]

Férias.

É, eu tenho meus projetos, Lúcio tá no gás do Maquinado, Jorge vai lançar coisa dele, saca? E eu vejo com bons olhos isso. E posso até dizer que se a NZ não voltar a engrenar e terminar acabando, faria um bem danado à toda história da banda. Mas temos que correr atrás do prejuízo do Fome de Tudo ainda[risos]. E nem me fale do maldito dia da gravina do DVD, fico logo puto.

Nacão Zumbi é a melhor banda do Brasil, vocês tão falando merda ai é? [grita Céu lá da sala de estar]
Oxe tas aí ainda é alma? [Fala Pupillo sem obter resposta]

O que essa foto de Danger Mouse faz aqui?

Sim Pupillo, pra acabar a falsa entrevista, aquela velha pergunta de sempre: Qual banda de Pernambuco vem fazendo um som que te agrada?

Ah o disco novo do Mombojó ficou muito bonito cara. Deu pra sacar um amadurecimento dos caras quando me vieram com as faixas. Curti também o novo de Otto, discão visceral pra caralho! Fiquei feliz também por ele.

E as bandas da nova geração, tem escutado?

[o músico parece quebrar a cabeça procurando alguma banda] DJ Cremoso serve? [gargalha]

[gargalhada de toda equipe] Po cara, se ele for de Pernambuco vale.

Esse porra é de Recife nada. Eu tenho uma tese que Dj Cremoso é Danger Mouse tirando onda de todo mundo. [risos]

E João do Morro serve?

Po, Recife tá mal das pernas mesmo né? Melhor encerrar essa conversa, tá ficando comprometedora. [risos]

Ok cara. Muito obrigado pela atenção. E por abrir as portas da sua casa. Você foi muito gentil.

Nada minha criança, foi massa! Vou falar de vocês pra Jackson Bandeira. Ele vai querer se lombrar por aqui também. Se liguem, não deixem ele falar mal de mim. [risos]

[Neste exato momento aparece Céu do nada com um prato de brigadeiro detonado pela metade e seis colherinhas oferecendo pra todos nós. A Musa da geração é mesmo uma graça.]

O Leite Moça patrocinou este artigo.

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falsa entrevista #02 – Esclarecimentos

15 Jul

Como alguns já estavam desconfiados, nos últimos dias estávamos com alguns entraves com o personagem da falsa entrevista #02. Em comum acordo com o cineasta e de forma – aparentemente – amigável, decidimos aceitar a censura de alguns trechos da falsa entrevista por motivos plausíveis apresentados. Porém hoje, o cineasta nos procurou mais uma vez e disse que não queria em hipótese alguma que a falsa entrevista estivesse no ar. Nós do Páginas Coladas em respeito aos fãs e – principalmente – ao bom senso, visto que não estamos mais vivendo na ditadura militar, oferecemos espaço aberto em nosso blog para que o cineasta entrasse com seu direito de resposta. Esta opção não foi aceita por ele e de forma -pela primeira vez – muito intrasigente, o cineasta pôs um ponto final na questão de uma forma que impressionou a todos da equipe. Nesse exato momento decidimos retirar o time de campo e fazer a sua vontade. Um dos motivos – e principal – alegado pelo cineasta é que não esta claro que o Páginas Coladas é um blog de falsas entrevistas. Pedimos desculpas mais uma vez pelo acontecido e esperamos que isso não se repita.

* Estamos tristes pelo ocorrido, mas temos a certeza que o Páginas Coladas continuará, pois acreditamos em sua importância e tudo isso aqui faz muito sentido.

falsa entrevista #01 – Felipe S.

19 Jun

"Nossa orquestra é que é o maestro."

Em São Paulo, mais especificamente no boêmio Ibotirama [point dos cults e também dos quase-cults], localizado na Rua Augusta, sentei frente a frente com Felipe S – vocalista da banda brasileira Mombojó – para esta falsa entrevista. Pedi prontamente uma cerveja e um copo.  Felipe provavelmente pediria uma água de coco daquelas vendidas em supermercado. O dia estava frio, por volta das 17h de uma terça-feira do ano de 2010. Percebo que a Augusta não é mais a mesma da década de 90. Ou fui eu que mudei? Bem, depois escrevo sobre isso, a crônica terá um nome provisório de Rua Angústia. Mas isso é pra depois, vamos agora às falsas perguntas e às falsas respostas.

“O cara é malemolente, né?” Felipe ao ser perguntado sobre o parceiro China.

Quem é o mais talentoso dos Mombojó?

Sem sombra de dúvidas o Chiquinho. Eu curto muito as guitarras que Marcelo cria, do timbre que ele usa e da forma que insere personalidade nas músicas, mas o Mombojó não é uma banda que prioriza o trampo do guitarrista, na verdade a guitarra na banda faz parte do todo. Não sei se isso é causa ou consequência das limitações artísticas de Marcelo. Vicente é um monstro, técnico pra caramba, sempre se garantiu, desde novo. A batera dele tem muita personalidade, tem até uma banda novata lá em Recife, chamada Joseph Tourton, na qual eu estou produzindo o disco de estreia deles, que o batera da banda chupa muito o estilo de tocar que Vicente criou. Ou seja, quando passa a fazer escola, é porque algo autêntico tem ali. Não acha?

Na verdade nunca escutei essa banda. Mas copiar [ou se inspirar] com um gap de tempo tão curto assim entre as gerações fica meio feio.

Mas não chega a ser uma cópia cara. É a referência do boy. O nadadenovo foi uma febre em Recife, provavelmente outros boyzinhos estão na mesma levada, tocando na garagem de casa.

Hoje em dia ninguém toca mais em garagem.

É foda né? Igual a campo de pelada, não tem mais não.

"...o nosso cristiano ronaldo"

E Chiquinho?

Um monstrinho né?

Literalmente, né?

Hahaaha pior que pega mulher viu? Já teve Vj da MTV colando na dele na época do lançamento do Homem Espuma. Mas po, Chico é rei, é um craque. O nosso Cristiano Ronaldo [risos]. Saca muito de música e tem uma preocupação estética muito importante dentro da banda. Ele e eu nos ligamos muito nos timbres, em soar perfeito a nossos ouvidos. Gostamos de lapidar.

Chiquinho é mesmo cego?

[gargalhadas] Cara, não sei, nunca prestei atenção se o teclado dele é em Braille.

Se Chiquinho é Cristiano Ronaldo, O Rafa era Zidane.

Podemos dizer que sim. Mas hoje em dia nossa orquestra é que é o maestro.

E Felipe S é quem?

Rivaldo!!

A ausência de Campello contribuiu para a queda de qualidade nas músicas da banda?

Diria que a ausencia do Rafa sim. A de Marcelo nem tanto, mas perda é perda. Algo muda, mesmo minimamente.

Defina China com uma só palavra.

O cara é malemolente neh? [gargalhadas que chamou atenção até a mesa ao lado onde estavam sentadas duas meninas beirando os 16 anos.]

Mas ele faz bem para a banda?

Cara, você ta trocando, China não é da Mombojo.

Continuo com minha pergunta. Ele faz bem pra banda?

[pausa de uns 10 segundos] Faz! Faz sim, ele contribui com letras. Trocamos muitas idéias, ele é um amigão.

O projeto Del Rey atrapalha o Mombojo? Tirando a parte financeira, que eu sei que ajuda muito.

Admito que o Del Rey ficou muito grandioso. E isso, queira ou não, fez a gente desfocar um pouco do Mombojó. Mombojó parece um anão ao lado da grandiosidade que o Del Rey representa hoje em dia. Juro que não sei lhe responder isso bem…[pausa de 4 segundos e meio milésimo]…enfim, o ópoderia estar melhor hoje artisticamente falando se o Del Rey não existisse.

China disse um dia que o objetivo dele é tocar junto com o Rei. Voce não acha que o projeto paralelo dele na verdade é o trabalho solo?

Nunca observei por essa ótica, pode ser. Mas só ele pra responder.

E o Mombojo?

O Mombojo o que?

É projeto paralelo?

Logico que não, o Mombojó é nossa razão de viver. Nossa família, tá louco?

Louco não, só observo a dinâmica das coisas.

Tá observando muito de fora então. [com sorriso cínico]

Não me parece que vocês respiram o Mombojó. O Amigo do Tempo não poderia ser bem melhor se o Del Rey não existisse?

Olha cara, eu respeito essa sua visão, talvez a gente possa ta transparecendo isso mesmo, mas não é verdade. Não sei te dizer se o Amigo do Tempo seria melhor, é muito complexo e comprometedor responder isso.

Mas é bom pra pensar a respeito pelo menos?

Pode ser.

Não seria a hora de dar uma pausa nessa velocidade do Del Rey?

Pausa não, talvez uma reavaliada nas prioridades. Estamos dando uma pausa no pro evolution [risos].

Um dia eu vi Campello dizendo em uma entrevista que o videogame deixa a pessoa abigobal, não sei oq isso significa, mas o tom foi pejorativo.

Eu lembro.

Ele pegou aviso prévio nesse dia?

Hahahahahahahaha bem que poderia…Cara minha carona ta chegando, tenho que passar som já já.

Com o Mombojo ou com o Del Rey?

Del Rey.

Ah.

[risos]

china, crooner da banda del rey.

Felipe, a letra das suas músicas não comunicam muita coisa né?

Não me preocupo com isso.

Mas não acha que falta um discurso nelas? Algo a dizer? Nem que seja um “nada” tipo Seinfeld?

Cara, admito que poderia trabalhar bem mais nelas. Mas tá bom assim. Não tá tão feio né? Não conheço Seinfeld a fundo, quem sabe é uma boa referência.

Nem tanto.

Ok, tenho que ir. O carro chegou. Paga a conta ai [risos]

Ultima pergunta: Voce acha que o aumento do lesbianismo das meninas de São Paulo eh culpa da falta de virilidade dos indies paulistanos?

[risos] Acho que não, se for, elas precisam urgentemente começar a procurar  a nós pernambucanos. Tem muito por aqui. E eles não são indies!

Posso sacar essa passagem de som? Nunca mais falei com china, aquele puto!

Oxe chega ai, agora pra entrar no carro tem que desligar essa porra de gravador!

[risos].

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=O

19 Jun

se você vier com frescura e dizer que tudo é mentira, vc eh feio.